quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tarefa cada dia mais difícil

Tarefa cada dia mais difícil esta de conciliar trabalho, casa, família, amigos, estudos, enfim, todos os aspectos geradores da tal felicidade, da satisfação pessoal, do prazer total que nos cobramos a cada instante.

Pergunto-me sempre se tudo isso é preciso mesmo, ao menos tudo isso ao mesmo tempo para sentirmos a realização e felicidade batendo na portinha de nosso self?

Será que não dá para ser de três em três ao menos?

Não ficaria mais fácil estabelecer três prioridades e então ir encaixando o restante ao redor, na medida do possível, digo: tempo, espaço, disponibilidade e com o passar do tempo descobrirmos, inclusive, que aquilo, antes tão primordial, já não faz tanta diferença.

Eu fui criada almoçando na casa de meus avós aos domingos por uns quatorze anos.

Era tradição familiar.

Sempre me perguntava como faria com meus filhos, já que perdi meus pais antes de ter minha própria família.

À medida que cresciam, minha angústia aumentava, mesmo porque eles também me perguntavam sempre porquê eles não tinham avós para passarem os finais de semana, ou tios com os quais irem passear, ou mesmo primos para brincarem.

Família esquisita, devia parecer ao entrarem no mundo dos coleguinhas e detectarem estes fatos familiares corriqueiros.

Com o tempo, porém, fui percebendo que eles mesmos encontravam escape para esse tipo de frustração.

Crianças são muito mais espertas, ao menos emocionalmente, do que adultos.

Suprem-se com o que têm e não ficam divagando a respeito de será que ele gosta de mim?

Isso, tão típico em nós adultos, entre crianças é resolvido de forma simples demais: você gosta de mim?

Bem como o amanhã.

Já viu alguma criança perder o sono pensando no amanhã?

Só se for porque no dia seguinte vai ter algo muito legal acontecendo.

Na verdade, o que sinto que falta é o tal compromisso.

Compromisso com as prioridades.

Por exemplo, se minha prioridade é minha família, eu, meu relacionamento, e meu trabalho, fica muito mais fácil de achar tempo e espaço para isso e ainda sobrar algum para as amigas, o salão, o cinema, ou seja lá o que mais eu goste de fazer.

Com certeza, se tento sempre ter tempo e espaço em minha vida para tudo ao mesmo tempo, morro na areia, frustrada e afogada.

O pior talvez seja que levo todos os que amo junto, e passo a ser a tal da mala sem alça que tudo quer e nada tem, que tudo questiona e nada resolve...

Porém, estejamos atentos para um fato: se estamos sós, mesmo que tenhamos filhos, descasados ou solteiros, ou desacompanhados, então esta tarefa emocional é nossa, problema nosso, trabalheira danada nossa.

Mas dentro de uma relação, este trabalho é nosso, não adianta tentar um empurrar para o outro.

Temos que estar de mãos dadas para a vida.

Seja lá que vida escolhermos ter juntos.

Os prazeres, deveres, chateações, empecilhos, aborrecimentos, agradecimentos, dádivas, filhos maravilhosos, filhos problemáticos, enfim, tudo passa a ser nosso; não importa o regime de separação ou comunhão de bens vigente, a vida familiar é mérito de dois, os bons e maus momentos não acontecem apenas, são geralmente gerados, e são gerados por dois.

Os filhos também interferem: hora ajudam, hora atrapalham, muitas vezes ficam em cima do muro, que aliás acho que é o melhor lugar em certos casos, mas ao casal, ou a um dos participantes, não é permitido nem olhar para o muro, a não ser para evitar a eventual queda de um filho.

Temos mesmo é que pegar na mão, nem que seja para que elas fiquem suficientemente ocupadas e não destruam nada.

Tarefa difícil?

E quem disse que ficar em uma relação é fácil?

Fácil mesmo, hoje em dia, é quando tanto a mulher quanto o homem acabam dando seus jeitos de tocarem as vidas em outros ares, fora do casamento, e os filhos, quando existem, sabem que ao redor existem montes de casais separados e que os filhos estão de alguma forma felizes ou adaptados.

Para manter uma relação, só mesmo de mãos muito dadas mesmo, vidas se cruzam com o tempo, se engalfinham uma na outra, e se o casal tem amor suficiente para encarar isso com satisfação de quem ao menos tem seu cobertor de orelha garantido, alguém que realmente se importa, que está ali para o que der e vier, então tudo valerá a pena.

Mas se ficarem se cobrando cada segundo juntos para resolverem os problemas inevitáveis, sentindo-se roubados em seus preciosos minutos para isso e aquilo tão importante à felicidade individual, então, repensar é melhorar, é reciclar, se há mesmo tesão pra enfrentar a vida a dois, tem que haver disposição suficiente para encarar essas dificuldades.

Tudo que é muito bom e que vale mesmo a pena dá trabalho.

Trabalhemos, pois!

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