domingo, 2 de novembro de 2008

O MENSAGEIRO DO AMOR

Falava-se na reunião, com respeito à preponderância dos sábios na Terra,
quando Jesus tomou a palavra e contou, sereno e simples: — Há muitos anos,
quando o mundo perigava em calamitosa crise de ignorância e perversidade, o
Poderoso Pai enviou-lhe um mensageiro da ciência, com a missão de
entregar-lhe gloriosa mensagem de vida eterna.

Tomando forma, nos círculos da carne, o esclarecido obreiro fez-se professor
e, sumamente interessado em letras, apaixonou-se exclusivamente pelas obras
da inteligência, afastando-se, enojado, da multidão inconsciente e
declarando que vivia numa vanguarda luminosa, inacessível à compreensão das
pessoas comuns.

Observando-o incapaz de atender aos compromissos assumidos, o Senhor
Compassivo providenciou a viagem de outro portador da ciência que, decorrido
algum tempo, se transformou em médico admirado.

O novo arauto da Providência refugiou-se numa sala de ervas e beberagens,
interessandose tão somente pelo contacto com enfermos importantes,
habilitados à concessão de grandes recompensas, afirmando que a plebe era
demasiado mesquinha para cativar-lhe a atenção.

O Todo-Bondoso determinou, então, a vinda de outro emissário da ciência, que
se converteu em guerreiro célebre.

Usou a espada do cálculo com mestria, pôs-se à ilharga de homens astuciosos
e vingativos e, afastando-se dos humildes e dos pobres, afirmava que a única
finalidade do povo era a de salientar a glória dos dominadores
sanguinolentos.

Contristado com tanto insucesso, o Senhor Supremo expediu outro missionário
da ciência, que, em breve, se fez primoroso artista.

Isolou-se nos salões ricos e fartos, compondo música que embriagasse de
prazer o coração dos homens provisoriamente felizes e afiançou que o
populacho não lhe seduzia a sensibilidade que ele mesmo acreditava
excessivamente avançada para o seu tempo.

Foi, então, que o Excelso Pai, preocupado com tantas negações, ordenou a
vinda de um mensageiro de amor aos homens.

Esse outro enviado enxergou todos os quadros da Terra, com imensa piedade.

Compadeceu- se do professor, do médico, do guerreiro e do artista, tanto
quanto se comoveu ante a desventura e a selvageria da multidão e, decidido a
trabalhar em nome de Deus, transformouse no servo diligente de todos.

Passou a agir em benefício geral e, identificado com o povo a que viera
servir, sabia desculpar infinitamente e repetir mil vezes o mesmo esforço ou
a mesma lição.

Se era humilhado ou perseguido, buscava compreender na ofensa um desafio
benéfico à sua capacidade de desdobrar-se na ação regeneradora, para
testemunhar reconhecimento à confiança do Pai que o enviara.

Por amar sem reservas os seus irmãos de luta, em muitas situações foi
compelido a orar e pedir o socorro do Céu, perante as garras da calúnia e do
sarcasmo; entretanto, entendia, nas mais baixas manifestações da natureza
humana, dobrados motivos para consagrar-se, com mais calor, à melhoria dos
companheiros animalizados, que ainda desconheciam a grandeza e a sublimidade
do Pai Benevolente que lhes dera o ser.

Foi assim, fazendo-se o último de todos, que conseguiu acender a luz da fé
renovadora e da bondade pura no coração das criaturas terrestres,
elevando-as a mais alto nível, com plena vitória na divina missão de que
fora investido.

Houve ligeira pausa na palavra doce do Messias e, ante a quietude que se
fizera espontânea no ruidoso ambiente de minutos antes, concluiu ele, com
expressivo acento na voz: — Cultura e santificação representam forças
inseparáveis da glória espiritual.

A sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono
Divino, mas, em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente
sabe.

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