quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Desempregado

Apresentou-se na firma de colocação de mão-de-obra.

Após horas na fila de desempregados, chegou a sua vez de ser entrevistado:
- Sabe fazer o quê?
- Bem, entendo de construção civil, meu pai trabalhava no ramo. Gosto de culinária e acho que não me daria mal na agricultura.
- Hum, Hum.

O que tem feito ultimamente?
- Sou andarilho, espalho novas idéias e boas notícias.
- Ora, isso tudo é muito vago.

Quero saber quais são as suas aptidões.
- Sou bom em recursos humanos.

Sei organizar grupos e incentivar pessoas.
- Considera-se um homem dotado de espírito de competitividade?
- Sou mais pela solidariedade.

Gosto de somar esforços, unir o que está dividido, quebrar distâncias, incluir os excluídos.
- Na área da saúde, tem algum conhecimento?
- Sim, às vezes faço curas por aí.
- Isso é exercício ilegal da medicina. Só os médicos e os medicamentos cientificamente comprovados podem curar.

Ou será que você também embarcou nessa onda de que meditação cura?
- É, meditação traz boa saúde.

É o meu caso. Medito todas as manhãs ou ao anoitecer.

Às vezes passo toda a noite meditando.

E, como vê, gozo de muito boa saúde.
- Que mais sabe fazer?
- Sei pescar, preparar anzóis, monitorar uma embarcação e até assar peixes.
- Bem, no momento não há procura neste ramo. Os japoneses já ocuparam todas as vagas. Se fosse escolher uma profissão, qual seria?
- A de publicitário.

Creio que sou bom de propaganda.
- Que tipo de produto gostaria de vender?
- A felicidade.
- A felicidade?
- Sim, como o senhor escutou.
- Meu caro, a felicidade é o bem mais procurado do mundo. É uma demanda infinita.

É o que todo mundo busca. Só que ninguém ainda descobriu como oferecê-la no mercado.

O máximo que temos conseguido é tentar convencer que ela resulta da soma dos prazeres.
- Como assim?
- Se você usar esta roupa, tomar aquela bebida, passar no cabelo aquele produto, viajar para tal lugar, você haverá de encontrar a felicidade.
- Mas isso é enganar a freguesia.

A felicidade não se confunde com nenhum bem de posse. Ela só pode ser encontrada no amor.
- Bela teoria!

E pensa que as pessoas não têm medo de amar?
- Têm medo porque não têm fé.

Se acreditassem em alguém e em si mesmas, amariam despudoradamente.
- Vejo que você é mesmo bom de lábia.

Quer um emprego de vendedor de cosméticos?
- Prefiro não vender ilusões.

Melhor oferecer esperanças.
- Esperanças? Do jeito que o mundo está? Cara, trate de ganhar seu dinheiro.

Hoje em dia é cada um por si e Deus por ninguém.
- Não penso assim. Se houver esperança de um futuro melhor, haverá indignação frente ao presente injusto.

Então as pessoas haverão de mudar as coisas.
- Pelo que vejo você gosta de política.
- Não sou político, mas exerço o meu direito de cidadania.

Defendo os direitos dos pobres.
- Desconfio que você é um desses vagabundos utópicos que nas praças divertem os jovens aos domingos.

Você bebe?
- Só vinho.
- Como é o seu nome?
- Jesus, mas pode me chamar de Emanuel.

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