quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A ESTAÇÃO DE TREM

Lembro com muita saudade aquelas idas e vindas à estação ferroviária de minha cidade.
Era uma verdadeira festa a chegada do trem de passageiros!
Muita gente ia ver a passagem do comboio pelos mais variados motivos.
Era um acontecimento para a minha cidade.
Eu achava lindo aquele movimento de pessoas que iam e vinham no meio do transporte mais popular dos anos quarenta.
Alguns, os mais letrados, nem sempre iam esperar algum viajante, mas iam com a finalidade de comprar os jornais da capital, para tomarem conhecimento das notícias do dia, principalmente as referentes à política.
Todo aquele contexto muito me agradava, apesar de não entender bem as coisas, eu era muito novo.
Enquanto alguns esperavam parentes ou amigos ou iam comprar jornais, eu me deliciava com uma cocada ou uma tapioca que meu avô comprava, para eu não dar trabalho a ele, enquanto estivesse esperando o comboio que, ainda não tinha "dado a partida" da estação vizinha.
Na casa em frente à estação, situada num terreno mais alto, com referência ao plano em que nos encontrávamos na plataforma, haviam algumas plantas coloridas e uma ave que eu achava linda!
Era um pavão e, no horário da chegada do trem, o alvorôço das pessoas que ali se encontravam, parece que deixavam aquela ave meio excitada e o "bicho" ficava mais lindo ainda, com as suas penas multicoloridas abertas, em forma de leque, dando um verdadeiro show à parte.
Os trens passavam ainda cedo pela manhã e os raios solares ainda estavam suportáveis para as pessoas, as plantas ainda com o orvalho da noite anterior e, tudo aquilo me marcou muito e, se eu pudesse, voltaria no tempo, nas mesmas condições e no mesmo local, para sentir aquele mesmo clima festivo da chegada do trem.
Tudo isso acontecia quando estávamos num período sem chuvas.
Mas, quando chovia muito, o cenário era bem diferente!
As pessoas tinham que atravessar um rio em canoas, correndo um certo risco, pois a correnteza era na maioria das vezes muito forte e poderia virar a modesta embarcação.
Não sei se já ocorreu este problema, mas os canoeiros eram bastante práticos naquela travessia e não havia quase perigo.
Além das canoas, algumas pessoas atravessavam até nas costas das outras. Lembro que eu mesmo, algumas vezes atravessei o rio dessa forma e achava ótimo. Tirava os sapatos e ia molhando os pés na água corrente do rio.
Era uma coisa gostosíssima, pelo menos para mim, que adorava toda aquela movimentação.
Atravessávamos os quase duzentos metros de largura do rio e já estávamos em terra firme, nos dirigindo para a estação, onde, por um motivo qualquer, íamos assistir a chegada do trem.
Ah! Que saudade daqueles tempos idos e vividos! que pena me dá não haver um processo qualquer para que aquela situação que tanta satisfação trouxe ao meu espírito infantil, pudesse voltar, para alegria daquele garoto nascido numa cidade ribeirinha.
Há poucos anos passados, retornei à minha cidade e refiz todo aquele itinerário.
Não tive a sensação dos tempos passados.
Tudo havia mudado!
O rio estava com pouca água, por causa das barragens, a estação não tinha vida como no passado.
E, ao invés de atravessar de canoa ou nas costas de alguém, fui por uma ponte asfaltada e bonita, mas que não me transmitiu aquele odor das folhas orvalhadas da manhã e a beleza das cores do pavão que ficava na casa, em frente à estação.
Há emoçòes que mexem com a alma da gente.
Essa última, foi uma delas.
Talvez eu preferisse não ter refeito aquele trajeto.
As imagens que eu guardava eram tão bonitas, tão cheirosas e tão agradáveis que, eu nào devia tê-las tentado reviver.
De qualquer forma, não vou lamentar, para que aquelas imagens fantásticas não me abandonem totalmente.
Seria uma perda irreparável.
Não quero correr esse risco!
O sentido e visto por mim, naquela visão infantil, ficará na lembrança pelo resto de meus dias.
Que nunca se apaguem, para confôrto eterno de meu espírito!

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