segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O AMOR

"O amor é de essência divina", bradam os imortais.
O homem, nos ensaios do amor, tem muita vez se equivocado.

Em nome do amor à verdade deflagrou contendas que atravessaram
anos e atingiram a muitos.
Pelo amor a personalidades eminentes, conspurcou vidas,
destroçando outras tantas vidas.
Pelo amor a sítios e paragens históricas o homem luta, e fere,
e se desequilibra.
Contudo, o amor é de essência divina.
Do que se conclui que, em momento algum, por nenhum motivo,
pode se tornar arma fratricida ou motivo de dissensão.
O verdadeiro amor simplesmente se doa e não tem limites.
Recordamo-nos de uma jovem senhora, profissional de mérito,
que se consorciou com famoso engenheiro.
A fortuna lhes sorriu, a fama, o reconhecimento público.
Viviam felizes, não fosse a depressão que vez ou outra acometia a esposa.
Tomava-se de tristeza e por horas amargava a solidão.
Nada que lhe pudesse modificar a disposição, nesses momentos.
Nem a presença do esposo, dos familiares, de amigos.
É que ela guardava um segredo e o remorso a atormentava.
Nos verdes anos da juventude engravidara e, inconseqüente,
optara pelo abortamento.
Após o casamento, porque não conseguisse engravidar,
passou a crer que os céus a estavam castigando pelo
ato terrível que cometera.
Mas não ousava a ninguém confidenciar o que fizera.
Até que um dia resolveu abrir a terra desconhecida do
seu coração ao ser amado.
Temia perdê-lo, face à revelação.
Ele a ouviu e tomando-lhe as mãos entre as suas, murmurou:
"Já suspeitava de que algo grave houvesse sucedido em sua vida.
Respeitei o seu segredo e jamais a amei menos.
Agora, muito mais, se for possível um superlativo amor.
Este é um grande e especial momento em nossas vidas.
Desapareceu o único impedimento que colocava sombras
em nossa união.”
“Você me perdoa?”, perguntou lacrimosa.
“Quem ama, não chega a perdoar”, respondeu rápido o marido.
“O fato de perdoar anularia o sentimento do amor, porque o amor
compreende sempre.
Lamento que este seu gesto de confiança não tivesse se
dado antes, pois assim me impediu de usufruir a solidariedade de
sofrer ao seu lado, diminuindo-lhe a dor.”
Segurando-lhe as mãos com redobrada ternura, as beijou:
"Não soframos mais o passado. Construamos o futuro.
Compensemos o ato criminoso, amparando os filhos alheios, se não
pudermos ser pais da própria carne.
Refundamos as nossas forças na fornalha sublime do amor,
clarificados pelo amor de Deus.”
O casal, tendo por testemunhas as estrelas da noite calma,
renovou as promessas de eterna ventura com dedicação perene.
Um poema musical de esperança e de mútuo auxílio se expressou,
na balada suave do amor.
* * *
O amor cobre a multidão dos erros e equívocos.
Isto significa que faltas graves podem ser ressarcidas com devoção
ao semelhante, dedicação ao bem e trabalho incessante pelo próximo.
Quem semeia espinhos pode amenizar a aspereza do campo
cultivado, passando a aromatizar o ar com a semeadura abundante
de flores coloridas e árvores frutíferas.

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