sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A lenda das lágrimas

Contam as lendas que,

quando o Criador concluiu a sua obra,

dividiu-a em departamentos

e os confiou aos cuidados dos Anjos.

Após algum tempo, o Todo Poderoso resolveu

fazer uma avaliação da sua criação

e convocou os servidores para uma reunião.

O primeiro a falar foi o Anjo das luzes.

Postou-se respeitosamente diante do Criador

e lhe falou com entusiasmo:

"Senhor, todas as claridades que criastes para a Terra continuam refletindo as bênçãos da sua misericórdia.

O Sol ilumina os dias terrenos

com os resplendores divinos,

vitalizando todas as coisas da natureza

e repartindo com elas o seu calor e a sua energia.

Deus abençoou o Anjo das luzes,

concedendo-lhe a faculdade de multiplicá-las

na face do mundo.

Depois foi a vez do Anjo da terra e das águas,

que exclamou com alegria:

"Senhor, sobre o mundo que criastes,

a terra continua alimentando fartamente

todas as criaturas;

todos os reinos da natureza retiram dela

os tesouros sagrados da vida.

E as águas, que parecem constituir

o sangue bendito da sua obra terrena,

circulam no seio imenso, cantando as suas glórias."

O Criador agradeceu as palavras do servidor fiel, abençoando-lhe os trabalhos.



Em seguida, falou radiante,

o Anjo das árvores e das flores.


"Senhor, a missão que concedestes aos vegetais da Terra

vem sendo cumprida com sublime dedicação.

As árvores oferecem sua sombra, seus frutos

e utilidades a todas as criaturas,

como braços misericordiosos do vosso amor paternal, estendidos sobre o solo do planeta."



Logo após falou o Anjo dos animais,

apresentando a Deus seu relato sincero.

Os animais terrestres, Senhor,

sabem respeitar as suas leis e acatar a sua vontade.

Todos têm a sua missão a cumprir,

e alguns se colocam ao lado do homem, para ajudá-lo.

As aves enfeitam os ares e alegram a todos

com suas melodias admiráveis,

louvando a sabedoria do seu Criador.


Deus, jubiloso, abençoou seu mensageiro,

derramando-lhe vibrações de agradecimento.



Foi quando, então, chegou a vez do Anjo dos homens. Angustiado e cabisbaixo,

provocando a admiração dos demais,

exclamou com tristeza:

"Senhor, ai de mim!

Enquanto meus companheiros falam da grandeza

com que são executados seus decretos na face da Terra,

não posso afirmar o mesmo dos homens...

Os seres humanos se perdem num labirinto

formado por eles mesmos.

Dentro do seu livre-arbítrio criam

todos os motivos de infelicidade.

Inventaram a chamada propriedade sobre os bens

que Lhe pertencem inteiramente,

e dão curso ao egoísmo e a ambição

pelo domínio e pela posse.

Esqueceram-se totalmente do seu Criador

e vivem se digladiando."

Deus, percebendo que o Anjo não conseguia mais falar porque sua voz estava embargada pelas lágrimas,

falou docemente:


Essa situação será remediada.

Alçou as mãos generosas e fez nascer, ali mesmo no céu,

um curso de águas cristalinas e,

enchendo um cântaro com essas pérolas líquidas,

entregou-o ao servidor, dizendo:

Volta à Terra e derrama no coração de meus filhos

este líquido celeste a que chamarás

água das lágrimas...

Seu gosto é amargo,

mas tem a propriedade de fazer que os homens me recordem, lembrando-se da minha misericórdia paternal.

Se eles sofrem e se desesperam

pela posse passageira das coisas da Terra,

é porque me esqueceram,

esquecendo sua origem divina.



... E desde esse dia o Anjo dos homens

derrama na alma atormentada e aflita da humanidade,

a água bendita das lágrimas remissoras.



A lenda encerra uma grande verdade:

cada criatura humana, no momento dos seus prantos

e amarguras, recorda, instintivamente,

a paternidade de Deus e as alvoradas divinas

da vida espiritual.

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