quinta-feira, 18 de setembro de 2008

AS DUAS MÃOS

Existem erros de toda a natureza que marcam a caminhada do ser humano no rumo

da perfeição. Em todos os movimentos religiosos diversas opções eleitas como

verdades absolutas tiveram a marca do personalismo que as relativizaram às

imperfeições do caminho. Assim, dogmas foram criados, rituais consagrados e

preconceitos expostos à aceitação popular. O Espiritismo não poderia se

eximir dessas interferências.



A propagada orientação de Jesus de que “não saiba a tua mão esquerda o que faz a

direita” (Mt VI, 1-4) foi indevidamente utilizada como sustentação do princípio

de que não devemos falar do bem que o Espiritismo traz à humanidade. Durante

muitas décadas vivemos uma era “romântica” do Espiritismo onde a doutrina era

mais vivenciada no exercício da caridade material, do pão, do agasalho e do

remédio, do que de iluminar os caminhos do mundo. Diziam-nos que, como o

Espiritismo tinha tanta qualidade em sua mensagem, ele não precisaria ser

propagado. Claro que não condenamos o auxílio a quem tem fome, a quem sente

frio ou a quem está doente, principalmente em um mundo como o nosso, com

tantas injustiças sociais. É o dever do verdadeiro cristão. Mas opor-se à divulgação

do Espiritismo sob o argumento de exacerbar a vaidade, é fazer um desfavor à causa

espírita.



O não ver a mão esquerda o que faz a direita é uma equação adequada às vivências

pessoais de cada um de nós, já que a demonstração do bem que se fez é produto de

um sentimento de orgulho que se manifesta na vaidade. Orgulhar-se do bem que se

fez é imaginar-se causa, superior a Deus, desse bem. É não reconhecer-se como

coadjuvante e não protagonista desse ato. Se não fôssemos um de nós seria outro, já

que se o bem praticado era do merecimento do beneficiado, ele teria que acontecer

com a nossa participação ou à nossa revelia. Se o fizemos apenas aproveitamos a

oportunidade de crescer no bem, sendo, talvez, mais beneficiados do que o que,

como tal, aparece aos olhos do mundo.

Então essa questão está resolvida para nós espíritas. A proposta é a de fazer o bem sem

ostentação... no âmbito pessoal!



Entretanto, no mesmo Evangelho de Mateus, no capítulo VIII, versículo 1 a 4, Jesus

após curar um leproso pede que ele não o diga a ninguém. Obviamente seguindo a

sua própria orientação, conforme reflexionamos acima. Mas termina, o Mestre

da Galiléia, recomendando que ele fosse se mostrar ao sacerdote, e deixasse sua

oferta conforme recomendou Moisés, “para servir de testemunho a eles”.



Jesus sugere aí o dever de se anunciar o bem para que ele sirva de testemunho a

outros. Em uma época onde a violência, a sensualidade e a imoralidade vem

ganhando espaço nos meios de comunicação, temos que perguntar: Onde estão os

espíritas, onde estão os brandos e pacíficos, os equilibrados em suas funções

genésicas, os justos, que não se posicionam com a sua opção de vida? Estão tão

silenciosos que o mundo pouco os conhece. Como afirmam os Espíritos o bem

ainda é tímido enquanto o mal continua ousado.



A nível coletivo, institucional, não podemos mais fugir ao imperativo da divulgação

doutrinária e de todo o bem que o Movimento Espírita realiza em suas atividades

de assistência material e espiritual. Os preconceitos do ontem não têm respaldo nas

definições de Jesus e devem ser substituídos pela ousadia que a gravidade da hora

presente exige de todos. Nosso movimento organizado precisa continuar a fazer, com

a mão direita, todo o bem que marca a história do Espiritismo na Terra, mas

permitir que a mão esquerda também faça a sua parte: DIVULGUE!

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