quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Segura minha mão, Pai!

“Quem será este menino? E a mão do Senhor estava com ele.”

(Ev. de Lucas, 1:66)





Uma velha página escrita por humilde madeireiro americano nos fala da ternura filial de um garotinho enfermo, transfigurado em símbolo de fé, da segura fé que devemos conservar na Divina Providência.



O pequeno texto, aqui resumido, dá notícia de um pai, o Carlos, que tinha um filhinho no hospital.



O menino já havia saído da sala de cirurgia, onde sofrera delicada intervenção. Estava, agora, em modesta enfermaria, adormecido...



Thornton, o madeireiro, viu o pobre Charlie, em lágrimas, transtornado, junto ao leito do seu filhinho. Ouviu também suas lamentações: Por que não chamara um médico mais cedo? Por que não dera maior atenção aos sintomas da enfermidade do pequenino? Por quê? Por quê?



Algum tempo depois, cessado o efeito maior da anestesia, o garotinho abriu os olhos e sorriu levemente ao ver seu pai perto de seu leito.



Estendeu a pequenina mão, ainda febril, para o genitor e disse-lhe, num sussurro:



“Segura minha mão, Papai. Está doendo tanto!...”



O carinhoso pai apertou docemente entre as suas a mãozinha do filho.



O menino tornou a sorrir e adormeceu de novo.



Foi, então, que Carlos também fechou os olhos e também falou, no murmúrio de uma prece que lhe subia do coração:



“Segura minha mão, Pai! Eu sofro tanto...”



* * *



Ensinou-nos Jesus muitas coisas belas sobre o Pai cheio de Amor, o Pai nosso que está nos Céus, onipresente em Seu Universo imensurável.



Ele é o Senhor da Criação inteira, sabemos, embora não possamos conceber a essência de Seu Espírito nem a Beleza de Seu Poder. Aprendemos, contudo, com o Mestre Divino que em sua Casa Infinita há muitas moradas. E que essas muitas mansões serão nossas vivendas, após esta vida transitória.



Não sei se isso acontece com todos. Mas, essa declaração de Jesus — “Na Casa de Meu Pai há muitas moradas... Vou preparar-vos lugar...” — é, para mim, de significante beleza e de supremo consolo. Esse conforto que nasce da sensação viva, bem viva, de que o Pai Compassivo da Parábola é a imagem de nosso Deus, do Pai de todos os filhos pródigos da terra dos homens...



Jesus compreendeu seus contemporâneos, especialmente os fariseus e escribas, por nos haver dado um retrato espiritual de Deus, verdadeira revelação: um Deus de Amor, um Pai afetuoso, rico de misericórdia e de cuidado conosco.



Em Seu relacionamento com Deus, o Incomparável Mestre usava o tratamento mais carinhoso que se possa imaginar, feito de terna intimidade e confiança: Pai!



Na língua que Jesus usava, o aramaico, essa palavra se traduz por Abba, que é realmente, nem mais nem menos, o tratamento empregado pelo garotinho enfermo. Significa — “Querido Pai”, “Papai”... Era o mesmo que as crianças judias usavam em suas ternas orações infantis...



E também o mesmo que Jesus empregava em Suas ações de graças ou em Suas súplicas.



“Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve.” (Mateus, 11:26).



“E disse: Abba, Pai, todas as coisas Te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que Tu queres.” (Marcos, 14:36).



Preciosas lições!



O carinho do trato não exclui o respeito. O amor ao Pai querido não faz esquecer a altíssima reverência ao Senhor do Céu e da Terra. O Abba não elimina o Adonai.



Do mesmo modo, a súplica por auxílio não arreda o espírito de submissão aos Supremos Desígnios. O “Segura minha mão” está em harmonia com o “Seja feito o que Tu queres”.



É confortador experimentar que a oração cristã é tecida de ternura, de confiança, de doce intimidade, de respeitosa adoração, de submissiva humildade...



É para Você que sofre, meu irmão, esta relembrança de um fato real. Também Você, também eu, qualquer de nós, na vida entrelaçada de amarguras ou nas circunstâncias cruciais da provação, hoje e sempre — cada coração quebrantado pode erguer-se na oração da fé e clamar ou murmurar, na paz ou na tormenta:



Pai querido, segura minha mão!

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