O Espírita tem o dever de instruir-se, de integrar-se na cultura do seu tempo. O Espírito da Verdade
trouxe-nos um mandamento novo, ao declarar: Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos,
eis o segundo. Kardec, por sua vez, ensinou-nos que o Espiritismo se relaciona com todas as ciências, e
que só lhe foi possível aparecer, depois que elas se desenvolvem no mundo.
A antiga lei, a do Velho Testamento, era a lei da justiça, dura e fria como a espada. Por isso, a Bíblia está
cheia de matanças, ordenadas pelos próprios profetas. A lei renovadora do Cristo, que modificou o
mundo e ainda hoje continua a transformar os nossos corações endurecidos, era a lei do amor. A nova lei,
que nos veio com a Nova Revelação, com o Espiritismo, é a lei da instrução. Pois não é o Espiritismo o nosso
grande instrutor, aquele que nos lembra os ensinos evangélicos, que no-los explica, que nos ensina de onde
viemos, para onde vamos e porque estamos na Terra? Não é o Espiritismo que nos consola em nossas
dores e em nossos desesperos, não por uma vaga promessa, mas pelo conhecimento do nosso destino?
O ensinamento do Espírito da Verdade, a que acima nos referimos, está no capítulo “O Cristo Consolador”,
de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. O ensinamento de Kardec, sobre a relação do Espiritismo com as
ciências, está no primeiro capítulo de “A Gênese”. Aconselhamos a leitura de ambos, juntamente com este
capítulo, para melhor e mais ampla compreensão do problema. Porque há espíritas que ainda não
compreenderam quase nada do Espiritismo, e apesar de nele se encontrarem há vinte, trinta ou mais
anos, continuam a pensar que não precisam instruir-se. “Para mim, basta a fé”, dizia-nos um desses
irmãos, que fechava os olhos diante da luz da Nova Revelação.
A fé, como todos sabemos, é uma necessidade. Um homem sem fé é uma criatura inútil. Nisso, também,
Kardec tem muito para nos ensinar, mostrando-nos que existe a fé humana e a fé divina. Os próprios descrentes
devem ter fé em alguma coisa, se quiserem ser úteis. Mas não podemos esquecer que a fé espírita não
é cega, não é imposta pelos outros, não deve prevalecer apesar do absurdo em que por acaso se apoiasse.
Não, nada disso. A fé espírita, como a definiu Kardec, é a fé raciocinada, ou seja, a fé iluminada pela razão.
E de que luzes disporá a razão, para com ela iluminar a fé, se não tivermos instrução? A luz natural,
apenas, é insuficiente para enfrentar os numerosos e complexos problemas que a descrença ilustrada
do nosso tempo levanta, sem cessar, contra o Espiritismo e contra todas as formas de fé.
Claro que o espírita não precisa tornar-se um sábio. Bom seria que todos o pudessem, mas isso é impossível
e seria contrário à própria lei de evolução. Cada um de nós tem o seu rumo evolutivo a seguir, na
fase em que nos encontramos. Mas, se o espírita não precisa ser sábio, também não deve ser
ignorante. Como vai ele sustentar a sua fé, e com ela auxiliar os que sofrem a cegueira do ateísmo,
do materialismo, ou mesmo da simples dúvida? Com artigos de fé, ninguém mais convence ninguém da
verdade espiritual. Estamos na idade da razão, na fase racional da evolução humana. Temos de alicerçar
a nossa fé no conhecimento, se quisermos que ela seja uma luz para todos, e não apenas uma lamparina de
uso particular.
Assim, vemos que o mandamento do Espírito da Verdade: “instruí-vos”, está diretamente ligado ao
mandamento de cristo: “amai-vos”. Pois, se nos amamos, é claro que desejamos a salvação da
fé para todos, e conseqüentemente não podemos fechar-nos em nossa cômoda ignorância, nessa beatitude
da ignorância, que caracterizou tantos beatos do passado. Não há lugar para beatos no Espiritismo. Os que
nele quiserem permanecer deverão instruir-se, libertando-se de suas falsas idéias, de seus conceitos
antiquados, de seus erros. Sem instrução não podemos cumprir o mandamento do amor ao próximo e do
amor a Deus. Pois como amar a Deus sem compreende-lo, sem Ter idéia da sua grandeza e da sua
natureza inteligente? E como amar ao próximo sem ajudá-lo a instruir-se, a esclarecer-se, a libertar-se das
superstições, das mentiras, dos falsos juízos?
Todo espírita pode e deve instruir-se. Cada coisa vem a seu tempo, e portanto de acordo com a sua época.
Na antigüidade bíblica, os meios de instrução eram quase nulos e os conhecimentos muito reduzidos. Deus
nos mandou então a lei fria da justiça, e por ela o profeta Elias fez passar a fio de espada os sacerdotes
inimigos. No tempo de Jesus, num mundo mais evoluído, em que o homem se beneficiava com maior
conhecimento e mais ampla compreensão das coisas, Deus nos mandou a lei ardente do amor, e os
apóstolos a ensinaram a todos os povos, dando seu suor, seu sangue e sua vida por amor a todos. Nos
tempos atuais, após o chamado século XVIII, Deus nos manda a lei de instrução, e os espíritas devem
cumpri-la, para ajudar a Terra a subir na Escala dos Mundos. Hoje, a instrução se difunde na Terra por
todos os meios, e o espírita só não se instruirá se não quiser.
É evidente que cada qual tem a sua própria medida. Uns poderão instruir-se mais, outros, menos. Uns terão
grandes possibilidades e chegarão até as cátedras da sabedoria mundana, para iluminá-las com a sabedoria
divina do Espiritismo. Outros disporão de pequenas possibilidades, e aprenderão o suficiente para ensinar
aos que sabem menos. As instituições espíritas, por sua vez, devem tornar-se verdadeiras casas de
instrução, não apenas evangélica e doutrinária, mas de cultura geral. Os Centros podem manter escolas
superiores e fundar Universidades. Porque a Universidade Espírita é a nova luz que deve raiar no mundo da cultura.
Muitos dizem que não devemos criar uma espécie de cultura isolada, através de escolas que separem os espíritas
dos outros. Mas a escola espírita não será nem poderá ser sectária. Será a escola de todos, oferecendo a
todos a nova cultura que o Espiritismo vem implantar na Terra. As escolas do mundo, como sabemos, ensinam o
materialismo, ao lado do dogmatismo religioso. Difundem conhecimentos e superstições em mistura, semeando
o ateísmo. A essa cultura que leva à cegueira espiritual é que os espíritas devem confiar os seus filhos e as
gerações futuras? Não. É dever dos espíritas, como foi dever dos judeus no seu tempo e dever dos cristãos no
seu tempo, criar uma nova modalidade de instrução e preparar o mundo para uma nova cultura. E isso só
pode ser feito através da escola espírita, que não desvirtuará o conhecimento humano em favor do
materialismo ou do dogmatismo religioso, mas o iluminará com a verdadeira luz do conhecimento espiritual.
A enorme facilidade de difusão da cultura, que caracteriza o nosso tempo, pode ser um meio de envenenar
e perverter gerações, como aconteceu em vários países, levados à desumanização e à brutalidade, diante dos
nossos olhos, ou pode ser um meio de esclarecer e orientar gerações, como faz o Espiritismo com os que dele
se aproximam. Teremos o direito de deixar que se processe o envenenamento coletivo? Não, pois temos em mãos
o tesouro da cultura espírita, e o nosso dever de amor e fraternidade é distribuí-lo a todos.
Em conclusão:
O espírita não tem o direito de acomodar-se na poltrona da fé ingênua e simplória: seu dever é estudar a
esclarecer-se quanto aos princípios da sua própria doutrina; a fé raciocinada exige o
desenvolvimento das potencialidades da razão, o que só pode ser feito através da instrução; para amar
e auxiliar o próximo, o espírita não pode estacionar na ignorância: precisa aprender, adquirir
conhecimentos, instruir-se.
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